Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais. Mudou-se para São Paulo,
onde trabalhou como empregada e catadora
de papel para se sustentar e sustentar seus três filhos, que criava sozinha.
Carolina escrevia sobre seu dia a dia na favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo, até que, em 1958, conheceu o
jornalista Audálio Dantas,
que a auxiliou na publicação de seus diários.
Seu primeiro
livro, Quarto de Despejo,
publicado em 1960,
vendeu dez mil cópias, em
quatro dias, e 100 mil cópias, em um ano. Esse livro relata suas vivências na
favela, sobre como sobrevivia à fome com seus filhos. Até hoje é um relato
atual da condição de vida de muitas outras mulheres nas favelas do Brasil.
Carolina
frequentou escola até o segundo
ano do Ensino
Fundamental, onde aprendeu a escrever e ler, no entanto, vinda de
família muito humilde e sem letramento, em sua casa não havia livros que a
futura escritora pudesse ler. Muito empolgada com a nova habilidade de leitura,
acabou procurando livros com sua vizinha. Foi quando teve acesso à Escrava
Isaura, de Bernardo Guimarães.
Ainda em
Sacramento, Carolina e sua mãe foram acusadas de roubarem, o que levou sua mãe
à prisão, onde ficou até
que descobrissem que não houve roubo algum. No entanto, o acontecido foi
marcante para Carolina, que largou tudo e mudou-se para São Paulo. Chegando em
São Paulo, começou a trabalhar na casa do médico Dr. Euryclides de Jesus
Zerbini, onde passava suas folgas na biblioteca da casa. Depois de ficar
grávida, não pôde mais trabalhar na casa e, então, passou a viver de pegar
papel na rua, separando os melhores papéis para a sua escrita diária.
Carolina, assim,
escreveu todos os dias sobre sua realidade na
favela, até que, um dia, o jornalista Audálio Dantas foi à favela do Canindé
para fazer uma matéria. Nesse momento, Carolina e Audálio encontraram-se. O
jornalista, que buscava falar sobre a favela, quando teve acesso aos papéis de
diário de Carolina, percebeu que já tinha tudo e muito mais o que falar sobre a
localidade.
Admirado com a
capacidade de expressão de Carolina, resolveu ajudá-la a publicar seu primeiro
e mais famoso livro. Apesar de Carolina não
ter frequentado muito a escola, o conhecimento que adquiriu no pouco que a
frequentou foi o que lhe possibilitou expressar-se enquanto mulher, negra, mãe, solteira e moradora da favela, gerando um livro
que foi a alavanca de sua vida.
Ainda que tivesse
ganhado muito dinheiro praticamente do dia para a noite, não conseguiu
administrar sua fortuna. Enfrentando o preconceito de uma sociedade que, em grande parte,
relacionava o talento de Carolina com a figura de Audálio — um homem branco e
letrado — em seus livros posteriores, não alcançou o lucro que havia feito com
sua primeira publicação, chegando, então, a voltar a pegar papel na rua para
sobreviver, até sua morte, em 1977.
Com uma
imagem determinada e
uma força nítida,
Carolina tornou-se uma referência de
mulher negra brasileira. Sua imagem vem formando-se como um ícone de força por sua história,
origem e percurso. Apesar de ter passado muito tempo esquecida, Carolina Maria
de Jesus chegou a lançar seus livros fora do Brasil, tendo traduções em 14 línguas.
Sua obra foi
elogiada por grandes nomes, como Clarice Lispector, que, ao ser intitulada por Carolina como
“uma escritora de verdade”, respondeu que: “Escritora de verdade é Carolina,
que conta a realidade”.
“Escrevo a miséria e a vida infausta dos
favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e
os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre.
Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de
literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.”
Carolina Maria de Jesus
Obras
- Quarto de Despejo (1960)
- Casa de Alvenaria (1961)
- Pedaços de Fome (1963)
- Provérbios (1963)
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