Era um brechó, desses
que vende roupas e objetos usados. Ali se observarmos com cuidado é possível encontrar
verdadeiras relíquias. Há quem diz que encontrou em um brechó a lâmpada de Aladim.
No meu caso encontrei um singelo espelho.
Uma moldura de madeira
elegante, onde podia ver o corpo inteiro. Comprei, oras, estava mesmo
precisando de um. Coloquei no meu quarto. Ficou perfeito.
Por um momento me senti
a pessoa com a maior beleza da terra, fiquei com medo, teria Narciso
baixado em mim. Mas não era eu, era o espelho, ele me realçava. Por hora me
fazendo acreditar, logo duvidar. Eu o exemplo de beleza? Nunca fui! Mas
porque eu não seria?
O espelho se tornou
minha fixação. Não saia de casa sem ter aquela conversa interna, que parecia
ser capaz até de ouvir a resposta. Quem ousaria ter a beleza maior que a minha,
isso me ocorreu. E como um sussurro eu ouvi; a sua entiada. Parecia que o espelho havia falado comigo.
E na minha cabeça estava claro eu não poderia
permitir aquilo. Foi ai que me dei conta, depois que perdi meu filho, nasceu
morto. Tentei concentrar em mim e me cuidar. E de um momento para outro eu me
vi a ponto de cometer um assassinato.
Foi por isso que eu
resolvi te procurar doutor. Eu estou com as mão cortadas porque tive uma briga
feia hoje de manhã. O espelho não concordava que eu viesse. E dei um soco nele.