quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Meu espelho


     
Era um brechó, desses que vende roupas e objetos usados. Ali se observarmos com cuidado é possível encontrar verdadeiras relíquias. Há quem diz que encontrou em um brechó a lâmpada de Aladim. No meu caso encontrei um singelo espelho.
Uma moldura de madeira elegante, onde podia ver o corpo inteiro. Comprei, oras, estava mesmo precisando de um. Coloquei no meu quarto. Ficou perfeito.
Por um momento me senti a  pessoa com a maior beleza da terra, fiquei com medo, teria Narciso baixado em mim. Mas não era eu, era o espelho, ele me realçava. Por hora me fazendo acreditar, logo duvidar. Eu o exemplo de beleza? Nunca fui! Mas porque eu não seria?
O espelho se tornou minha fixação. Não saia de casa sem ter aquela conversa interna, que parecia ser capaz até de ouvir a resposta. Quem ousaria ter a beleza maior que a minha, isso me ocorreu. E como um sussurro eu ouvi; a sua entiada. Parecia que o espelho havia falado comigo. 
 E na minha cabeça estava claro eu não poderia permitir aquilo. Foi ai que me dei conta, depois que perdi meu filho, nasceu morto. Tentei concentrar em mim e me cuidar. E de um momento para outro eu me vi a ponto de cometer um assassinato.
Foi por isso que eu resolvi te procurar doutor. Eu estou com as mão cortadas porque tive uma briga feia hoje de manhã. O espelho não concordava que eu viesse. E dei um soco nele.          


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